quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Mínimo do cartão ainda é perigoso


Por Pedro Souza
O pagamento mínimo de 15% da fatura do cartão de crédito não será alterado. O Banco Central, quando publicou medida com o limite, informou que o percentual subiria para 20% em dezembro. Mas na sexta-feira, junto ao anúncio do afrouxamento de algumas medidas macroprudenciais, o BC afirmou que os 15% tinham se mostrado suficientes. Mas a mudança nos planos causa divergência entre especialistas.

"Olhando somente a questão da economia, a curto prazo, o BC tem a intenção de estimular o consumo para se proteger de possível desaceleração da atividade econômica", avaliou o coordenador das pesquisas de juros da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade, Miguel Ribeiro de Oliveira. "Mas em algum momento, na medida em que a economia voltar a aquecer, ele terá que voltar atrás e elevar o pagamento mínimo da fatura do cartão", acrescentou o especialista da Anefac.

Para o vice-presidente da Ordem dos Economistas do Brasil e professor do Insper José Dutra Sobrinho, o BC está deixando de lado medida que contribuiria para o menor endividamento do consumidor.

"Acho que os 20% deveriam ser mantidos. Não vejo a taxa como agravante para economia. Não ia afetar, mas sim melhorar a vida de quem usa o cartão de crédito, que tem os juros mais caros do mercado. Deixando em 15% o pagamento mínimo, o consumidor é incentivado a não sair do endividamento", criticou Dutra.

Ele destacou que o BC fechou os olhos para os preços do crédito no País. "Isso deveria ser mudado para estimular a economia", afirmou. Dutra contou que em viagem pela Europa soube que na Itália, um dos países da região que mais cobra pela modalidade paralela ao cartão de crédito brasileiro, os juros médios são de 40% ao ano. No Brasil, segundo a Anefac, o custo médio do crédito rotativo no cartão é de 238% ao ano. "E em Portugal então, que a média é de 14% ao ano", comparou.

CENÁRIO- A previsão de desaquecimento da economia brasileira neste ano é compartilhada por vários economistas que contribuem para o Boletim Focus, publicação do BC, que apresentou a sexta queda consecutiva na estimativa para a elevação do Produto Interno Bruto neste ano. Na segunda-feira, o documento mostrava previsão de 3,16%, contra 3,2% da semana passada. E a manutenção no percentual de 15% no mínimo da fatura do cartão contribuiria para o incremento do consumo no Brasil, que teria reflexo na economia.

SIMULAÇÃO - Dutra disse que aumentar o percentual do pagamento do plástico seria medida positiva para as famílias brasileiras. Isso porque o consumidor, que utilizar desta estratégia de pagamento, gastaria menos com os juros da dívida.

Na ponta do lápis, uma dívida de R$ 1.000 no plástico, com taxa média de 10% ao mês, na qual estão incluídos os tributos, o consumidor pagaria s R$ 723,92 de juros após 12 meses ao liquidar o percentual mínimo (15%) mantido pelo BC. O cálculo considera que a pessoa não usou mais o cartão neste período e sobrariam R$ 446,42 de dívida. Caso o BC elevasse o mínimo para 20%, o usuário gastaria menos com os juros, que cairiam para R$ 522,89, com débito restante de R$ 215,67. "O problema é que tem muito consumidor que paga o mínimo do cartão e não sabe que os bancos cobram tudo isso de juros", destacou Dutra.
Fonte: Diário do Grande ABC - 16/11/2011